30 de ago. de 2010

História pra boi dormir.

o bom de ser leve é exatamente o peso que não se leva consigo; pula-se daqui ali e o que pesa mesmo é o que se leva nos ombros e que o pouco peso - aquele antes útil - mal consegue aguentar. se eu te dissesse o que se passa aqui dentro talvez que nunca mais insistisses em tentar um contato ou, quando talvez, tentar me conhecer, mas são assim as pessoas, babe, e elas fedem.

é fácil ser um porra louca, eu te explico: basta ter uma decepção amorosa de verdade e mais uma dezena de decepções inventadas que taí: não tens mais que levar a vida tão a sério, tampouco a morte e muito menos ainda isso que se convencionou chamar amor. redigamos, por favor e explicitemos de uma vez por todas: o amor morreu. poetizar? ei-lo morto. se fodeu!

morre-se um pouco, sim. a cada dia, cada vez mais, os anos passam e morre-se mais, pois é. acontece.

e nunca mais se consegue o silêncio, nunca mais que se concentra depois que se apaixonou pela boemia. quando se era mais jovem... quando se era mais jovem ouvia-se tanta gente mais velha cantando na rádio que o que era a vida era daquele jeito e a gente não entendia, não é? fui entender com tristeza o mundo inteiro acordar e a gente dormir, de cazuza, quando o a gente dormir era segunda-feira e eu acordado às cinco da manhã quando precisava de fato acordar às seis, eu entendi com tristeza tudo isso hoje de manhã.

a gente cresce para se reproduzir, compreende? e isso de subjetividade que nos faz broxas e as faz frígidas e nos faz temerosos e neuróticos, o que a gente faz com isso? enfia no cu, de preferência com pitadas de literatura francesa e latinamericana. do século vinte, por favor: faz mais sentido.

cansei das sinapses perdidas e encontradas, dos textos sob influência, da comunicabilidade alcançada a base de alcalóides, tanto eufemismo pra nada. enfim. nunca se diz de fato o que se quer dizer, ainda mais em se tratando de um texto que se julga - escrito por quem é julgado - na tentativa de ser literário.

cansei de mim e de ti. mas me acostumei com isso, então segue-se a lógica da repartição pública e de todo ofício maquinal de merda que se cumpre religiosamente durante a vida inteira até a aposentadoria - e depois dela; nunca te falei que meu pai acorda todos os dias à meia-noite porque esse era o horário em que se jantava no terceiro turno da empresa? acordava. acordou durante quase quarenta anos; foi ao médico e agora toma remédios que o fazem dormir cedo e não acordar nunca mais. mas se o escuto de pé, no escuro, caminhando pra cozinha, quanto orgulho! somos só isso, pai. apenas costume.

cansei de mim e de ti, mas me cansei acostumado, o que quer dizer que não me canso, de fato, embora seja humano e cristão, mais cristão que humano, ter esperança em alguma coisa, e eu tenho: embora nada demais: nunca se permite ir tão fundo e de verdade mais que uma vez.

andar em círculos, sempre. porque sempre será. e não te incomodes de eu não saber teu nome ou confundi-lo com outro. acontece de a gente sempre querer retornar prum conforto que não aceita que tenha terminado, sempre um conforto, até o ventre, num eterno retorno. dá pra imaginar isso numa explicação em três d a la discovery channel, não dá?!

entonces me perdoa se eu confundir teu nome ou te chamar dum nome que nunca havia saído antes da minha boca. de repente a gente pode crer que, se pensar bem forte, vai haver novamente conforto. e de repente a gente pode perceber que o conforto pra onde se quer voltar nunca houve, a gente é que imaginou. e tudo não passou de história pra boi dormir.




18 de ago. de 2010

Três poemas noturnos.

LAMPEJO #35

Que os poemas não
lidos frutifiquem
e tornem-se grito
ensurdecedor
nas bocas dos teus ouvidos.


LAMPEJO #34

Evitaremos o que
nos distrai
e destrói
por simplesmente
fingir que a vida
não dói?

Jamais! Jamais!

Antes, provocar as feras,
insistir nas trevas
e como, quem não quer nada,
pedir mais.


LAMPEJO #33

A ancestralidade
biblicamente nos diz:
Acordai! Acordai!
E nós, ancestralmente
crentes, acordamos.
Mas Ai!

17 de ago. de 2010

Dois poemas rudes.

LAMPEJO #32

Podes utilizar
- dentre as existentes -
quantas palavras forem
necessárias;

o que não cabe numa
noite
não há palavra a descrever
que valha
e que não corte como
aço de navalha.


LAMPEJO #31

Isso de ser homem
é tornar-se,
entornar-se
e catapultar-se
contra quem seja.
Isso de ser homem
é sobretudo ir
(sem nunca, nunca,
nunca se esquecer
de rir
de tudo).

11 de ago. de 2010

5 de ago. de 2010

Vambora?

deveria haver forma mais fácil de. enfim, sempre as mesmas questões, manter distância do álcool, manter o nariz sério, parar de mentir um pouco sobre as crenças que me arrematam, supostamente seria lindo me ver chorando diante de um altar quando, quem sabe, estivesse a pagar pelo milagre concebido, deus, muito obrigado, amém, ou de qualquer forma, nunca se sabe, eu mesmo santo, crucificado, olhando para os ali acerca e dizendo, pai, pode foder com tudo, tô pouco me fodendo.

sempre as mesmas questões, sempre as mesmas. vê? mudam as cenas, muda o clima, sempre as mesmas questões, outro dia era sábado e fazia calor quando de repente me vi a mim mesmo e revi pedro e revi dover e revi todas aquelas pessoas amáveis ou que deixaram de sê-lo, éramos todos caminhando de bermudas e camisetas há cerca de dez anos. íamos pro bar no primeiro calor do verão, pro mesmo bar para onde caminhamos durante todo o inverno, sempre isso.

há que ser sério, mas sobretudo há que se procurar na seriedade algum feitiço - por que não consigo? eu juro que tento - que me leve direto para lá, para a seriedade, para a idade adulta que nunca me chega, a não ser numa ou noutra ruga que me aparece no rosto e que, aos poucos, faz com que o cabelo nunca-curto acabe destoando do rosto, um cabelo de guri num rosto de homem, meu corpo sem pêlos, essas coisas.

para onde se vai? a vida é essa miséria de querer ter certeza quando certeza é o que de menos a vida pode ter. acontece o seguinte: vive-se um relacionamento de masmorra, escravidão intelectual, afetiva, sexual - propriamente sexual - para encenar o matrimônio. um dia, meu caro, ela desce as escadas - como se isso importasse, outro dia falei: tenho as minhas cenas que são meramente ilustrativas, entenda-se assim - e o merdinha escravizado perde o senhorio e, como se manderlay fosse possível, quer a escravidão ainda mais, ainda mais.

para onde se vai, então? tenta ligar pro von trier, via cento e dois, pedindo um abraço? não, não, nunca mais escravidão.

mesmo que se lamente pelo excesso do lamento desvalido. sim, perde-se muito tempo a lamentar o tempo que se perdeu lamentando, mas é assim que se aprende a viver, afinal. deixa o tempo passar, simplesmente, e um dia te vês com o sorriso que rodrigo chamou de besta celestial, disparando não fogos, mas flores contra quem te cruzar o caminho e invalidas de uma vez por todas a imagem das borboletas na barriga, que a isso dá-se o nome simplesmente de diarréia ou paixão alcoólica por mulheres sempre mais feias do que o álcool consegue esconder atrás de si.

um dia tu acordas no sossego. nunca sem tensão, porque o mundo é esse mundo aqui em que vivemos e aonde a merda da vida nos faz chafurdar em si. mas o sossego desacreditado do abraço existe, o sossego esquecido do olhar amante existe. um dia tu acordas no quarto que tem o cheiro do corpo dela e pensas: não lamento nem mais o tempo que perdi lamentando, porque afinal tudo acontece na hora certa e quem somos nós para duvidar disso.

deveria haver uma forma mais fácil de. marcos me demoveu de muitas idéias infantis ao longo desses vinte e seis anos de amizade, mas ainda não conseguiu me fazer esquecer dos anos de infância que passamos juntos, nos divertindo muito e sempre em busca do que fazer para... passar o tempo. deveria haver uma forma mais fácil de se conseguir tempo e marcos ficaria decepcionado se eu dissesse, ainda hoje, que deveríamos abolir o trabalho e as ocupações regulares para viver... de amor.

brincadeira: sejamos sérios o quanto pudermos. paguemos nossos impostos e durmamos cedo, de preferência sóbrios de álcool e remédios, falemos puramente a verdade (nada superará a verdade, jamais) e nos ocupemos em não nos preocupar com o tempo que se leva para entender o que nos diz a respiração do outro.

deveria ser mais fácil burlar a saudade e a necessidade que desponta aos poucos. aos poucos, para não assustar. deveria e será, se for. vambora?

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...