29 de out. de 2013

Poema-dobradura

Te tenho em três, quatro
bairros
dessa cidade sem escrúpulos.

Ali, uma luz doce;
Aqui, uma insônia imperfeita.

Quantos passos em direção-onde.
Tantas horas! Tantas horas!

Em que passos te deleitas e que,
a esmo,
te encaminhas?

De que lado nasce o sol,
pequenina?

Se nascemos já todos tão cegos!
Se nascemos já todos sozinhos.

13 de out. de 2013

Entre parênteses e reticências.

sim, eu quero é descer novamente as escadas, cego, olhando para o chão e para ti, tu desces na frente, teus passos inseguros, eu piso onde. eu quero descer as escadas e deixar tuas malas novamente na calçada; tuas malas e os sonhos que num domingo, decerto era domingo, nos fizemos: quem não sabia que era mentira? eu acreditei. sim, eu quero saber dos teus parentes e dos teus ancestrais, até quem sabe o primeiro austrolopithecus, o primeiro dessa linhagem que veio acabar em ti, que veio pra acabar comigo.

é domingo e me descubro indescoberto entre dois discos tristes de duas pessoas felizes, tomara que o sejam: eu dormi e sonhei com uma manhã de domingo que leo fressato canta tão inocentemente - eu é que não me descubro em mentiras alheias, nasci pra crer no incerto.

claro que não pode ser assim, ela me diz, embora eu creia que é sempre assim que tem de ser: obtuso, convexo, irregular, parabólico.

caralho!

barone cantou meu quarto há mais de dez anos: as paredes eram livres. hoje sou mais livre do que as paredes daquele quarto, meu caro; trago em mim as tatuagens de cada verso, de cada canção, de cada fotografia, de cada nome de mulher que por mais que faça questão de esquecer, inscrevi nos meus ossos à mostra: fumo meus cigarros para evitar gritar aos quatro ventos: "EU QUERO QUE TODOS SE FODAM!".

não pegaria bem, não é?

eu quero novamente receber aquele telefonema esquisito em noite de domingo me dizendo que é para eu buscar minhas coisas, porque tudo se acabou sem querer, sem motivo, só acabou, compreende? com ou sem escadas, tanto faz. mas preciso, entende?

o amor é a gasolina pra essa minha vida de tomar querosene e olhar a luz do poste dar voltas em torno de mim.

qual amor, marcelo labes?

o amor morreu a cada degrau da escada, a cada palavra do telefonema de domingo, a cada quilômetro de distância na estrada e no tempo.

o amor nasceu morto e foi enterrado no quintal da casa de meus pais. o amor era um pássaro que encontramos morto, daniel e eu, e enterramos com honras fúnebres de crianças tristes - que éramos. depois enterrei daniel com as honras de quem não poderia nunca mais não ser triste.

mas morre pra renascer. me dizem.

hoje é domingo e só. hoje é o dia da saudade. hoje era pra ter sido um dia de reencontro entre eu e mim mesmo. onde andaremos?

para onde vamos?

quem saberá de nós?, me pergunto.

e me pergunto esperando não haver resposta possível. ando cansado de me contra-argumentar.

de amar, suspeito, não me canso. amar e esperar as escadas. amar e esperar o telefonema de domingo. amar e esperar.

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...