3 de fev. de 2009

O lado B dela. E o meu.

- Me deu vontade de ler.

- Só quem sabe - ou já soube - pode ler assim dessa forma tão… chorosa como li teu texto. Belo e verdadeiro. Gracias! (…) Outch! Doeu fundo isso.

- Pensei em 456 coisas pra comentar aqui enquanto lia pela primeira, segunda ou terceira vez. Até que conclui que para histórias tão parecidas com a vida real, comentários são irrelevantes perto de vivências. Do cacete, literariamente.

- Sim, Marina, concordo contigo quanto à irrelevância de comentários relacionados a textos, por assim dizer, tão reais. É por isso que, se me magoar tão profundamente como hoje, te lendo, vou atacar a autora, não a autoria. Muito bom te ler.

- Te deixo magoado, ameaças me atacar e ainda assim dizes que é bom me ler? E depois nós complicamos as coisas…

- As coisas são complicadas por si só. Primeiro, como disse, recebi duas raquetadas no mesmo dia vindas de uma autora que, felizmente, não conheço: sou de fazer fiasco quando sinto a ordem do meu dia perturbada. E se foi assim, se doeu, é porque foi bom ler. Não é tão complicado assim…

- Se as raquetadas foram dignas de fiascos, doeram e essa dor fez sentir uma perturbação no seu dia, fico feliz. Essa mesma felicidade que você deve sentir por não conhecer a autora das raquetadas. (No final, todo mundo é complicado. Mesmo porque esse pingue-pongue da vida não deixa simplicidade alguma durar pra sempre).

- Sim, é pra tu te sentires feliz por ter me perturbado: chegaste lá. Agora não posso dizer que me acalma não te conhecer, porque certamente vou desviar de pessoas na rua (nunca se sabe aonde está a raquete) com medo de apanhar de novo, numa quinta-feira quente e úmida ou num domingo de sol e vento.

- Ritmo gostoso de se ler. Quanto a desviar de pessoas na rua, se acalme. Quase todas elas escondem suas raquetes de um jeito tão especial, que acabam por nem lembrar que elas existem. Só malucos saem tentando acertar os outros, já que na maioria das vezes se encontra só o vento e nenhuma cara pra bater.

- Por isso mesmo essa coisa de tensão: não quero me desviar das pessoas: quero me desviar de ti- ou não, claro está, porque acabo me tornando realmente curioso em saber sobre quem consegue fazer isso assim, com ou sem raquetes, querendo ou não usá-las.

- Olha, interessante. Acho que é a primeira vez que um ilustre desconhecido me fala sobre querer (ou não) desviar de mim na rua. Minhas raquetes (ou o que quer que elas sejam) começaram a fazer efeito em pessoas que eu não conheço e não só nas que evitam as conversas mais delicadas comigo na vida real, palpável. De qualquer forma, hoje não tentarei te atacar e acredito que não vamos nos cruzar por aí. Ande tranquilo.

- Devo me sentir seguro, então? Acho que conseguir fazer efeito em desconhecidos pode ser vantajoso - desde que desconhecidos permaneçam. Uma pena que hoje não aconteça nada grandioso: tirei o dia de folga em busca de. Mas andarei tranquilo, sim. Tranquilo e curioso.

- Curioso?

- Por querer saber quem é que essa pessoa que me diz pra andar tranquilo porque - hoje - não vai tentar me atacar, tampouco cruzar comigo por aí.

- Se te consola, mesmo a que tenta te acalmar sabe exatamente quem ela é.

- Sei? Sabe? (…) Um dia a gente se esbarra e mato a curiosidade. Ou ela me mata: a curiosidade ou a raquetada? Enfim.

- E o mais engraçado é que eu já passei por você.

- Injusta!

- Qual é a injustiça?

- Eu não saber te reconhecer é uma.

- É o meu lado A. Você também pode achar que uso vestidos e trançinhas. Mas é bom, me sinto menos perigosa. Ou pelo menos escondo bem o perigo.

- Desculpa, mas não te creio de tranças. E eu talvez não quisesse conhecer o teu lado A. Esse é sempre tão fácil de se saber. Mas esse perigo me chama atenção. Uma pena não te saber, sutil desconhecida.

- Um dia nos encontraremos e o problema estará resolvido, ilustre desconhecido. Ou, quem sabe, na próxima vez que estiveres sentado a escadaria e eu passar, você seja o primeiro a me reconhecer pelo Lado B.

- Que assim seja. Lado B, sim: lá estão sempre as melhores músicas.


Uma longa curta história que começou por lá, no Invisível Particular, da Marina Melz, continuou por aqui, depois se enrolou e assim se fez.

3 comentários:

Marcelo Labes disse...

Agora, esse "deu vontade de ler" é antigo ou me engano?

Marina Melz disse...

Olha, relendo percebi uma coisa: vais desviar de mim agora, Marcelo-lado-B?

Costa disse...

Nossa! Quem tem conteúdo vai longe!

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...