28 de out. de 2011

Barone.

A propósito dos dez anos do Palanque Marginal.

foi no banho, onde mais teria sido? pensando em barone, no tanto que tu és, foste, quem sabe ainda seja, tanto tempo distantes, pensando em escrever de verdade, isso de fluxo de consciência que a academia certamente abomina, mas tanto que eu abomino a academia, ora, onde já se viu, mas tanto faz.

acontece que depois de muito pensei em vinícius procurando respostas, talvez.de quando?, ora, um som dos paralamas que eu conheci antes de tanto, corria hum mil novecentos e noventa e oito, acontecia o nove luas, um som que dizia que da cama pro banho, do banho pra sala, o sono persiste etcetera e tal até que então fosse dito que era tudo igual igual igual igual igual.

foi aí ou no cassete do legião urbana, vinte e nove vezes, por que vinte e nove, só por hoje eu saberia. acontece.

mas sempre mais perguntas que respostas, um dia um caminhão e eu pensando que se fosse, seria interessante, o caminhão na minha direção, eu no meio da rua, não foi por medo que eu parei: foi por tesão.

e eu querendo saber de vinícius, de onde a calma. o meu quarto, barone viu, o meu quarto-museu que foi pintado enquanto eu tentava uma vida-teatro em porto alegre, eu já não era mais criança, mas ainda era somente o mesmo, um tanto-faz disfarçado de gente, uma vez fui ator, noutras fui poeta. o tanto-faz veste sempre a roupa da vez.

e a calma. eu pensava: há que ser forte. por quê? forte pra quem? há que ser forte para aguentar a vida, o peso, a tensão, as mulheres que fazem as malas e repetem uma cena de nichols em que se diz eu não te amo mais, como se a cena em si recompensasse a perda, como se a vida fosse cinema: vinícius foi sempre real demais!

e a ânsia das perguntas nunca feitas: não dói, vinícius, ser sóbrio? não dói amar somente uma mulher? e te ver num pequeno, teu filho, e ver ali teu pai também, como é? vinícius que recusou lobo antunes pelo peso que eu sei que é imponente e me devolveu o cus de judas dizendo que não fazia lá seu estilo, prefere leituras mais práticas.

ah, a poesia. eu que já fui poeta, já fui casado, já fui veado, já fui cantor de cabaré (?). eu que somente escrevo porque somente o texto pode fazer sentido e sinto que somente a literatura pode fazer ruir a alma dum homem sadio. a poesia é a grande verdade dos fracos que ali se apóiam e ali se fazem – o que realmente gostariam e não podem ser.

mas onde eu queria chegar com tudo isso? ah sim. dizer que o texto é necessário. não faz o menor sentido, mas é necessário. a academia já morreu há tanto tempo, a literatura decompõe-se tão lentamente, sente o cheiro?, mas isso de ser gente continua, isso de se mostrar assim nu, assim homem mulher o que seja, isso não para. e se escrever é a masturbação de quem se sabe, ler seria afinal o quê? a continuidade sem sentido algum de coisa nenhuma? pois é.

no entanto (ah, no entanto, sempre um porém), escrever-se para si e se ler no outro é o que nos faz humanos, nos faz sabidos, nos faz o que tanto lamentamos ser mas de onde nunca fugimos.

conheci barone antes de mirisola, quase ao mesmo tempo em que sartre, camus, pra nizan vir tão depois e tantos outros. mas nenhum deles pessoalmente. melhor assim: nenhum de verdade.

então percebo: é necessário dar nó nessa corda, enfrentar o final de um texto escrito sem dúvida a contragosto. não sei lidar ainda com o tempo e com as marcas do tempo – dez anos – mas termino dizendo assim:

procurei em vinícius uma resposta, sempre procurei. e por que falo dele aqui? porque ele me responde. quanto a ti, meu amigo, tu és incapaz de fazê-lo e, tenho certeza, vem daí a glória deste palanque marginal: a interrogação necessária, um contínuo abrir de olhos, uma fraternidade fora dos eixos.

sem sentido como a poesia. esta que pra nada serve. esta que é reflexo da vida. e por isso mesmo, fundamental.

13 de out. de 2011

Poema duma quinta-feira chuvosa.

Eu queria ter o poder de pedir
para deixar de tirares meu sono.
Eu queria ter.

Eu queria ter a vergonha de
te falar do tanto da falta que
eu sinto.
Eu queria.

Mas quando me vem teu sorriso
(o clichê do sorriso, eu penso,
sempre se fala em sorriso)
de Curinga pueril;
os olhos de pantera que
parecem não ser teus

Quando enfrento o travesseiro
e me acordo dum sono febril,
me levanto e escrevo um poema
(o clichê do poema, penso eu)
pra tentar resolver o dilema

de quem és tu.
do que sou eu.

4 de out. de 2011

Poema só para ela

A ferida de debaixo
do teu queixo,
A ferida de debaixo
dos teus olhos
Já pararam
- tanto tempo -
de sangrar.

Mas o que te sangra
bem aí, bem dentro
(que é grito, dor, amor,
tesão, tormento)
como faço pra
parar de machucar?

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...