21 de mai. de 2011

Geni, aquela puta!

acabaram-se todos os assuntos, acabou-se todo e qualquer texto, o que mais poderia haver são as mentiras prodigiosas do jornal local e o desmentimento investigativo e oportunista dos vermelhos de plantão. a esquerda cada vez mais festiva e eu sem convite para a festa. aonde foi parar a tal da luta?

teoria: humberto gessinger é muito mais lutador do que chico buarque ou qualquer um desse tempo em que os militares - a gente sabe muito bem. porque é fácil caetano gravar podres poderes quando já ninguém mais lutava contra nada: tempos de abertura. e a banda passou há muito tempo. por que não reverenciar o de hollanda pelas canções que faz pra comer essa ou aquela bronzeada de copacabana? renata maria é uma bela duma música dum disco belíssimo que ninguém ouviu, porque estão todos chorando a geni enquanto o zepellin faz questão de abastecer-se com combustível estrangeiro, que a gasolina aqui anda pela hora da morte.

mas seguindo a teoria: baseio-me numa só canção do dito, o gessinger, roqueiro aposentado. ramil, ao menos, sempre foi velho e sempre foi jovem ou sempre foi as duas coisas: maduro e moleque. gessinger vai perdendo os dentes, mas cantou um dia em terceira do plural, que é uma música essa sim que deveria se ouvir prestando atenção, cantou falando de obsolecência programada, fé de quem te patrocina e tantos outros termos que sujeito acostumado com a banda vai ter de buscar no dicionário.

caetano fez um disco inteiro baseado num maracatu fora de série. ele declama navio negreiro por inteiro, POR INTEIRO, TÁ ME OUVINDO?, mas ninguém mais sabe de navio negreiro nem de castro alves. estão pensando na geni.

alguém aí já ouviu falar de jorge mautner?

tom zé ia tocar pra universitário esquerdinha num fusca velho. até que aquele um lá descobriu a genialidade do sujeito. virou pop-esquerdinha, cult-maluquete. hermeto pasqual, o cegueta, deve estar vendendo pastel na feira, porque nunca viu la color de la plata.

teoria número dois: o amor nunca acaba. clichê: se acabou, não era amor. mas eu tenho uma mão cheia de amores dos mais bonitos, dos mais a la roberto freire (falando nisso, devolve meu livro?), que não se acabam porque são estreitos e seguem em linha reta rumo a (um mugido, essa coisa lembra curral) - rumo ao futuro oblíquo destinado a quem ama. às vezes se sofre, às vezes não. às vezes se é por inteiro, às vezes se é somente em parte e por aí vai. acontece que tenho já o suficiente, uma mão cheia de amores intermináveis e não há mais espaço, me perdoe quem achou possível: é cansativo lidar unilateralmente com tanta dor de cotovelo.

eu dizia: acabaram-se todos os assuntos. o triste é: lemos kafka, ele morto; lemos sartre, também morto; nizan, dostoiévski, camus - todos mortos. se sabia desde o começo que teria ali aqueles livros para ler e mais, talvez, uma montoeira (ratoeiras) de livros sobre os livros que lemos, o que não deixa de ser uma sacanagem editorial. mas temos paulo coelho, de quem ninguém aguenta mais ouvir falar, nem reclamar, nem ver numa daquelas aparições no fantástico, em domingo à noite. mas saramago morreu, era onde eu queria chegar. o que resta? ler lobo antunes? preferia saramago.

lição do dia: o tempo passa e já não há assuntos novos, apenas novas abordagens sobre os assuntos de sempre.

isso porque me entristeceu o fato de só agora ter me dado conta de que nunca mais será lançado um saramago novo, que se continuará chorando a cadela da geni e que humberto gessinger, ao contrário de vitor ramil, precisa encomendar dentaduras postiças.

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...