12 de fev. de 2011

Insanimadamente.

eu tentei, juro que não quis, quando cada um me vem com a sua própria teoria, tu foi violentado quando criança, passou muita fome, teus pais eram ricos e empobreceram, as drogas que tu consome, muita televisão, um amor que não acaba mais porque nunca houve. nada de nada. eu escrevo porque sim. e só isso.

e eu canto porque sim, caminho porque sim, trabalho pra ter dinheiro para o porque sim e para não precisar responder a perguntar de assistente social. eu falo, não respondo perguntas. por isso me evado e se fores conversar comigo verás que dou trinta e sete voltas e te levo para onde jamais pensaste em pôr os pés, mas te levo para lá porque me é fácil levar quem eu quiser para onde eu bem entender - sem responder a pergunta nenhuma, pelo contrário.

é sempre um círculo, um ciclo, um círculo cíclico? a tensão pré-menstrual, as fases da lua, as idades da gente e o meu humor. estagna, caminha, sobe sobe sobe, pula lá de cima, cai pra baixo do abaixo, ergue-se e recomeça, descansa (estagna) e recomeça a caminhada.

outro dia expliquei que num outro dia alguém me disse que foda, foda escrever isso, foda pensar isso, foda pensar para escrever como se tivesse vivido isso e eu disse me promete segredo e alguém disse que prometia segredo e eu disse eu vivo tudo isso e os olhos da pessoa brilharam e eu pensei que era muito feliz por viver uma mentira tão digna, tão limpa, tão dúbia: eu vivo ou escrevo isso ou faço os dois ao mesmo tempo ou somente vivo e escrever é um pequeno reflexo? trúbia? não existe a palavra, acabei de inventar, caibam-me os créditos.

tem gente que canta a própria música. eu canto minhas próprias músicas nu, na frente do espelho - que é uma parede branca porque não gosto tanto de espelhos de verdade -, mas é que numa parede branca tu te vês ainda mais fundo do que de fato te vês e eu me via na parede branca cantando a música que eu compus e depois cantando a música que outra gente compôs e de repente não sabia mais se era eu o outro e continuei cantando. achou que eu pararia?

mas não chega perto disso. tu compões, tu cantas, tu ensaias, tu cantas, tu suas, tua boca seca, porque afinal as pessoas estão vendo-te, não outra pessoa, estão vendo tu cantares a tua música e a música soa, a voz soa, tu danças e balanças e a voz soa e te sentes muito longe dali, num lugar neutro, livre, onde estás alimentado e sadio e febril e doente, onde tudo definitivamente não passa de uma grande mentira que nunca poderá/deixará de ser - verdade.

eu caminho pelo meu texto, é só o que é. gostei mais de dostoiévski do que deveria e acho que dodô de fato matou a velha e somente não se entregou para poder escrever sobre a fraqueza de meu querido rodka, ah bátiuchka, por que fizeste isso e não nos livraste de anos de penas? - porque pagamos por ti há anos os anos de trabalhos forçados na sibéria. consegue compreender? por isso que saramago nunca ousou, porque somente pensava, mas dodô matou a agiota, tenho certeza, e era por isso que bebia. um chá? mete conhaque dentro!

a gente somente caminha, isso é fácil de ver. quando percebe, já não é... mas sempre a vontade insana de voltar a ser ou de somente ser, o que dá no mesmo.

eu não me escrevo aqui. eu nunca me escrevi aqui. o texto que me escreve. e eu aqui estou do avesso. porque, afinal, tem gente que nasce para. eu nasci não sei pra quê.

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...