24 de ago. de 2011

Sobre isso de dez anos.

eu bem poderia fazer novamente o que vim fazendo todo esse tempo, agora eu sei quanto custam dez anos de uma vida vivida em função de datas, de nomes, de lembranças a que ninguém dá o devido valor, eu gastei toda a minha mirrada fortuna interior de pensamentos pensando, pensando, se tivesse investido mais além, quem sabe estivesse rico. de mais lembranças.

as fotografias e os dilemas. poema dia-sim-dia-não para dizer o quê, para quem, tanto faz. nunca fez sentido isso de futuro próspero que nos fizeram engolir, dias idos, com pão e café com leite, uma mesa de oito lugares em que se repartia a comida, em que se repartia partes de vidas, em que não se repartia nada mais do que o ar que se respirava.

acontece que não adianta tentar escapar para a europa de lá ou para a europa que nos enfiaram cu adentro aqui mesmo, não há escapatória, a não ser abstrair, mas abstrair como - se tudo sempre nos remete a. e há quem não canse de ouvir o que aconteceu nos idos de hum mil novescentos e noventa e nove, nos idos do ano dois mil, minhas histórias repetidas das noites de bebedeira, há quem não canse de ouvir não por interesse. por pena.

era uma cidade, era uma escola. a escola sempre foi maior do que a cidade e caminhar pelas alamedas e fitar as árvores e se recostar no gramado era sentir-se abraçado pela realidade que inexiste por incapacidade de existir. o mundo, aqui, não é o mundo que aprendi. nunca me refiz da perda: oito pessoas por mesa, doze mesas no refeitório, um pedaço de carne para cada um, aos sábados cachorro-quente.

como merda, quando se pisa nela, quando se escorrega nela, quando se come. fede. o mundo, este mundo, não nos permite, nunca me permitiu repetir a irmandade fabricada, as amizades que surgiam para aplacar a dor de uma separação inevitável e nunca antes experimentada até que finalmente acontecesse. aconteceu. o resto são cacos.

tenho aqui esse saco velho - esse corpo que se assemelha a um saco velho - onde guardo os cacos, dez anos se passaram e acumularam-se os cacos. não há mosaico capaz de remontar. não há como remontar-me a mim próprio.

reencontro para assomar ao desencontro. solidariedade para com a minha solidão. eu ainda caminho pelas alamedas, eu ainda deito nos gramados, eu ainda beijo uma adolescente excitada sob as árvores de uma pequena praça. eu ainda abraço o abraço dos irmãos que não tive, que então tive e que enfim perdi. eu ainda abaixo os olhos diante do alemão opulento e torto e vermelho que me torturava a vida por eu ser um menino triste.

eu sou apenas um menino triste se que esqueceu de crescer. e sempre retorno àqueles tempos, sem querer. menos quando o conhaque queima.

até mesmo quando o conhaque queima. assim.

7 de ago. de 2011

Pra descrente ver.

Tentar a ciência,
e eloquência,
a transparência,
seja o turvo que for.

Tentar a família,
a partilha,
o amor...

Amar uma vez e,
se der,
tentar amar novamente.

Tentar ganhar dinheiro
ou viver sempre por um triz.

E se nada de nada der certo,
enfiar Jesus rabo adentro
e, sorrisinho no rosto,
espalhar aos quatro ventos
que é feliz.



já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...