24 de jul. de 2009

Entrevista.

“Tava acabando comigo, sabe moço? Não tinha mais vida, dormia e acordava pensando nela, dormia com ela, né, acordava abraçado, sufocado não, sufocado sim, mas eu não via.

“Começou assim, uma vez, outra vez, de repente todo dia, de repente toda hora. A gente deixa de viver, moço, como é triste. Tudo em função dela, tudo pra ela. Dos amigos a gente se esquece, com o trabalho a gente não se preocupa. Me largaram os amigos e o trabalho, moço, a coisa tava difícil.

“Dizem que é vício e agora eu concordo. No começo é bom, a gente se sente forte, se sente homem quando usa. Depois, moço, quando o bicho pega, tu é largado sozinho com ela. A gente vê o mundo como ele não é. Foi assim comigo, é assim com muito homem.

“Um dia a gente acorda pra vida, né! Comigo foi assim: quando eu tava me afogando na merda, decidi que era hora de mudar, de criar coragem e mudar. Ela tomava a minha vida, moço. Tudo que eu era, era dela. Criei coragem, respirei fundo e fui adiante.

“Hoje tá tudo melhor, né. Hoje eu consigo comer direito, dormir direito, tô bem do corpo e da cabeça. Se eu sinto falta? Não, moço, não sinto falta não. Mas às vezes eu fico pensando. Penso tanto que chego a suar. É como se viesse a vontade de novo, sabe? Mas daí eu penso que eu enfiei a faca na barriga dela foi pra me ver livre de tudo isso. E mesmo aqui, moço, mesmo preso eu sou o homem mais livre desse mundo”.

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...