eu fiz a minha parte, abri aqui o bloco de notas pra escrever sobre o quê, sobre quem e quando. faz muito tempo e faz exatamente um ano. eu fiz a minha parte e no fim das contas não tenho mérito, eu só preciso do silêncio, não me telefonem, não me escrevam, pra que pedir se é isso mesmo que acontece sem que eu tenha realmente controle.
faz sol aqui e lá, ela me disse, faz sol, a manhã é bonita lá e é bonita aqui, sem mágoa, tristeza ou lembrança triste de quantos anos ou um ano atrás, talvez uma saudade, várias saudades, enfim. faz sol mesmo, não há como negar, olha ali e me diz se não é mesmo um dia branco. mentira. são nuvens. tomei café com meu pai ontem e ele me disse que o tempo ia durar, ia ficar sol, ia ficar assim, lá filho, olha as estrelas. eu olhei, pai. eu olhei. e faz sol só pelo pai. quem ver vai dizer que tá cinza e não erra.
eu meço o tempo em quilômetros.
grande coisa, eu fiz a minha parte, abri aqui o bloco de notas pra escrever compulsivamente sobre alguém que no fim sou sempre eu mesmo, grande coisa isso de escrever, teorizava sábado que é preciso apartar, mas personagem não sente, moço, personagem é a máscara que tu pões nos teus desejos, entende? moço, personagem é brincadeira de criança, ficar dizendo a ele o que fazer contigo mesmo, era tu que querias matar teu pai, comer tua irmã, rasgar teu pescoço com os cacos daquele vidro mais antigo.
não consigo mais ler porque a literatura é essa merda de a gente ficar vivendo uma outra vida. a vida da personagem. queria tomar café com o mirisola hoje pra acabar de uma vez com todas com isso de admirar. não reconheço mais nada, joyce é cansativo e só se lê pra colocar numa espécie de currículo que bem poderia ser quem tem o pau maior e é quem conseguiu ler mais vezes o ulisses ou qualquer outro da mesma estirpe.
preciso fazer mais pela gente porque não tenho o que fazer comigo, entende?
ela me disse que faz sol lá e isso me basta por um dia inteiro. e eu sorrio por um dia inteiro pensando no sol que ela é.
26 de ago. de 2009
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3 comentários:
fez sol em mim, amigo... um sol ainda maior que este que se esconde... um sol que ilumina toda a noite...
Inveja de não ter escrito tão simples quanto este teu!
Vou imprimir.
Abraço forte e fraterno,
Viegas.
não é bem inveja, é mais alegrai de alguem dizer aquilo que ainda não chegamos ao racínio exato pra colocar em palavras.
Ou será q é alegria de saber q tem o pau maior?
Segundo abraço fraterno.
Andrews.
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