31 de jan. de 2016

A classe média
sofre com a escolha
dos candidatos
(fora barbudos,
fora bandidos,
eles dizem).
Não se enxergam
nos seus próprios
espelhos quebrados.

A classe média
sofre, mas com
o preço do vinho
importado,
com a escolha
das louças do
lavabo,
com o papel de
parede pro quarto,
com o mármore da
cozinha
(melhor marrom ou
azulado?).

A classe média
sofre com o destino
do cruzeiro de férias
(o Caribe não sabe onde
fica e Bu enos Aires é
tão manjado!)

Sofre quando entra
em avião cheio de pobre
assalariado.

A classe média
sofre quando a escola
pública apresenta
bons resultados
e não consegue
conceber que os muros
de seus colégios
não protegem do
fracasso.

A classe média
sofre com a recente
alta do dólar
e já repensa o que
fazer no feriado.

A classe média
que sofre com o
preço da gasolina
não dá vez para
o ônibus lotado de gente
que vai pro trabalho
todo dia de manhã.

"Mas e eu ,
eu não trabalho?",
surge a questão.

Trabalha, claro que sim.
Mas trabalha menos
que sofre.

Porque a classe média
vive do seu mais famoso
tormento:

não enriquece porque
não consegue;
se estabelece e faz
desse o seu sustento:

de tanto qu e sofre,
a classe média
faz do sofrer o seu
mais saboroso alimento.

A TV noticiou o
ar pesado,
mas não falou do
cheiro ruim,
cheiro de sofrimento
barato,
parcelado no cartão,
com juros no crediário.

A TV noticiou
e a classe média
fez que sim:
"Dá um pedaço pra mim,
tô de sofrimento atrasado".

A classe média sofre
é de um mal ocidental,
há tanto tempo repetido,
aprendido e ensinado.

A classe média sofre
de não conseguir
olhar pro lado.

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