25 de fev. de 2016

marcão contava
de quando era
jovem, o álcool
acabou com ele.

contava da esposa,
das filhas, da mãe que
nunca mais tinha
ido ver em curitiba.

marcão havia sido
pedreiro, carpinteiro,
empresário do ramo
de salgadinhos.

visitava minha casa
com uma sacola de
compras - gostava
de massa com molho
de tomate - e só depois
esquecia que não
podia cozinhar onde
morava: já não tinha
uma casa e vivia
de favor:

"eu faço a janta
e a gente conversa",
marcão gostava.
enquanto jantava,
contava de quando
perdeu tudo numa
festa do divino,
pôs fogo numa
montanha de
sal gadinhos,
encerrou sua
própria empreitada.

usava óculos,
era magro e alto,
o nariz escorria
por causa do enfizema:
"quero rever minha
mãe, tô pensando
em voltar pra casa".

do nada que tinha,
restou uma sacola
com algumas roupas,
alguns comprimidos,
uma chave de casa
assombrada.

nunca mais nos
vimos: morreu com
a família, creio que
era seu plano.

hoje o recebo para
um café, naquele
porão úmido em que
juntos habitamos:

marcão, precisava
dividir contigo que
estou sóbrio há dois
anos.

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