deito ali a três palmos
das mãos mantidas cruzadas
a mão do relógio e a mão da aliança
enquanto a luz verde da televisão anoitece
e a voz não sai porque não tem como
e as horas que passam contamos com
o passar dos ônibus:
meias horas de subúrbio.
adormeço e imagino
o roçar das pontas dos dedos
as unhas longas passeando pelos
meus cabelos finos
ida e volta ida e volta
os dedos nos cabelos e eu te digo:
a isso chamamos cafuné
tão simples e tão bonito
desperto entre a falta e o apito
e espero com ansiedade
um roçar de barba na minha face
sem pelos e dali um beijo de lado
com que me dizes boa noite filho
e escapo entre as cortinas antes
de saber o resultado de brasil de
pelotas e goiás que no primeiro
tempo terminou empatado em
hum a hum.
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