para celebrar aqueles almoços de domingo
uma carteira de cigarros daquele tempo em que eu
roubava os de meu pai de cima da estante da cozinha
(escaladas que eram a aventura incalculada)
agora essa
explosão de açúcar no sangue & cafeína & nicotina
para lembrar que limpeza é um conceito muito frágil
ainda que o mix-para-celebração se distancie dos estragos
das travessias em mar revolto de álcool & cocaína
veja que
limpeza é um conceito tão frágil como aquele menino
assustado quando o pai chamou pra passear e era tarde
o susto e o grito incontido sempre que o pneu trepava a
calçada sempre que a tarde se tornava madrugada
sempre
que eu sonhava com os gritos que eu daria na cara do vizinho
que enfiava o pau na boca daquele rapazinho que era
eu e era outro e era eu e era outro mas nunca terá
idade para ser assassino a não ser dos próprios sonhos
aventureiro do próprio desatino desbravador de insônias
e colossos que eu trago nos bolsos de uma calça de menino
queria
um banquete com mesa vasta a se perder de vista
onde sentassem os amigos e os inimigos antigos
(porque a consideração somente surge no oposto)
onde coubessem o homem que me pretendo e o menino
(porque as lacunas da história de um cabem nas rugas do outro)
onde sentássemos todos para comemorar as mazelas
(setembro não chegará se sucumbirmos a agosto)
porque
há que se enfrentar os monstros e comemorar o desalinho
depois dos dez primeiros tombos a gente aprende a cair sozinho
quando foi que desaprendi a andar pra frente.
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