3 de set. de 2020

eu já coube inteiro no teu
abraço forte - se fecho os
olhos, sinto as cócegas
sinto o cheiro de tua barba.

já te invejei os olhos azuis,
a obstinação operária
- esposa, filhos, casa -
embora tenha te copiado

no cigarro e na cachaça
- aprendemos os dois a
andar em linha reta, pai,
apesar de tanta fumaça.

aprendi a chorar contigo
aprendi a sorrir contigo
sei de pássaros e outros
bichos, sinto a hora da

trovoada

embora tenha me mantido
longe da fábrica, embora
não tenha feito família,
embora só tenha a escrita

por morada

te carrego nesse meu peito
fraco dizendo que sinto tua
falta talvez desde o nascimento,
mas sempre é tempo, pai,

sempre é tempo de a gente
voltar pra estrada, de a gente
dizer que se ama, de a gente
fazer do que foi melhor do

que o que está por vir

porque toda história nasce
sempre inacabada - a tua
mão na minha, teu rosto no
meu, as cócegas da tua barba.

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