amigos, inimigos, não me
procurem: chove como se
desde sempre, caminho
como se os primeiros passos
e olho as horas neste relógio
enguiçado à espera das 8
pílulas que às 8 da noite
engulo como se pedisse paz
- e a paz vem.
não me procurem com ofertas
de cafeína de cocaína de dopamina
porque já me lambuzei de açúcar
quando o que queria era beijar os
lábios grandes os lábios pequenos
os lábios da face de uma mulher
sem rosto de quem somente vi
fotos e de que também me esqueci.
não me procurem porque hoje
durmo cedo, como sempre
desde que a noite simulou
avisos de morte uma primeira
e uma última vez, porque escolhi
espargir para dizer que espargi
as cinzas de meu pai, porque
evitei dizer saudade para dizer
o que não tinha mais como.
não me procurem, por favor,
até amanhã ou ano que vem.
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