o pai sabia beijar quando bebia
beijo lambuzado de cerveja e
aguardente, mais o que tinha para
ser dito e ficava entalado nalgum
canto da garganta (por acaso ali
o câncer, apenas por acaso), mas
depois aprendeu a beijar sóbrio
a abraçar e dizer que me amava
e eu beijava o pai na testa e na
bochecha, na têmpora e nas mãos
beijei vivo e beijei morto o homem
que me fez tão infeliz, que me fez
tão feliz: a somatória nunca é zero
para qualquer adversário: eu, que
queria um beijo, só mais um,
de feliz aniversário.
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