11 de dez. de 2009

Clichê.

Primeiro ficou perplexo. Andava assustado pela casa, triste como cão sem dono. Ou melhor: como cão abandonado pelo dono. Dava pena vê-lo no sofá, a TV ligada, olhando para dentro de si.

Depois deu pra beber. Até de manhãzinha. Aquele bar imundo cheio de tristes como ele. Uma desgraça! Sentava na mesinha, no balcão, no meio-fio e bebia com sede. Sede de vingança.

Deixou de dormir, de comer, de falar. Largou o emprego e foi morar num 2 x 2 emprestado por alguém da família. Deixou de sair de casa e de abrir a porta. Morreu.

Filha dele que me disse: “Viu o que aconteceu com o pai?” e eu respondi que sim com a cabeça, e ela continuou: “Sabe o que realmente aconteceu? Ele queria era ter descarregado o revólver na cabeça da mãe, aquela puta!”

E enquanto eu imaginava que sempre nos vingamos mais em nós do que nos outros, pensei na Beatriz, na puta que era, o Rogério sabendo que ela andava saindo com todo mundo, eu pensando nas coxas grossas da Beatriz.

“Mas ela é tua mãe, pequena. Não esquece nunca disso”.


Publicado antes no Duelo de Escritores.

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