16 de mar. de 2010

Um sonho.

a gente sempre tem um sonho, maninha, eu também tive, era numa rua que não existe mais, puseram um viaduto bem no meio, mas era lá, quantos anos eu tinha, tão poucos, era um ônibus da itapemirim, amarelo daquele jeito dos anos oitenta, amarelo queimado, eu entrava no ônibus ali onde a iguaçu encontrava com a rua são paulo, ali tinha uma parada, eu me lembro, eram tempos de cremer e ônibus da glória, nunca vi um itapemirim ali, ônibus de viajar, sabe como é?, e eu entrei pela porta da frente e vi o cobrador do ônibus feito num esqueleto, tudo aquilo eram esqueletos e enxofre e eu fui andando, devo ter me mijado, no sonho ou de verdade, eu fui andando e tu sabes como são ônibus de viagem, maninha, tem uma porta só, a da frente, e eu fui andando para o fundo do ônibus.

a gente sempre tem um sonho, o de ser qualquer coisa, até que desiste, se viu que ainda não se tornou nada, outro dia meu irmão disse que estranha a minha geração, isso de não querer ser nada e me perguntou tu, o que tu quer da vida, e eu disse que nada, não quero nada, já me basta muito estar vivo ainda e ele disse que achava estranho e eu não disse a ele, digo a outrem, digo que me basta um emprego que me pague as contas, o trago, o cigarro, o pó e me reste algum dinheiro pros livros, ou a conversa é invertida, que eu tenha dinheiro pros livros e me reste uns trocados pro resto, sabe como é, a gente nunca sabe quem tem sido ultimamente.

eu me lembro de uns tempos. um de cada vez, tempo depois de tempo e me pergunto o que houve hoje pra eu lembrar disso daquilo ou daqueloutro, entende?

eu caminho ainda pelas mesmas ruas de uns anos atrás, eu ainda bebo no mesmo bar, eu ainda penso numa mulher assim e eu lamento. eu ainda lamento, maninha. não por tudo, mas por tão pouco.

desde que revi barone e cris que eu guardo um choro. mas não vai ser qualquer choro, não. vai ser um tal de um qual de um certo choro bom. aquele que eu quis chorar naqueles tempos, o shopping cristal e eu me aguentando de choro e diarréia, não quero ir embora, não vai ser bom eu voltar, teria ficado por lá. teria ficado por lá: em porto alegre, em são leopoldo, em ivoti, em são paulo, em curitiba e na casa de uns parentes de minha madrinha que moram no oeste de santa catarina e que eu visitei quando ainda nem sabia falar. eu teria ficado por lá, maninha, e tu nem sentirias a minha falta. nos é muito caro perder alguém com quem se viveu.

mas a gente nunca viveu junto. e então?

teria sido melhor nunca ter te conhecido, anjinho.

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