9 de jun. de 2010

Vamos escrever!

vamos escrever sobre os mártires e os sem-teto, vamos escrever sobre a gente, sobre a nossa falta de tato, sobre a nossa fadiga. vamos escrever sobre a cantiga antiga que aprendemos a cantar sem nunca entender e recantamos em momentos de tensão desde a pré-escola. vamos cantar a pré-escola e o jardim hum, eu lembro o exato momento em que no antigo hum mil novescentos e oitenta e nove mamãe me deixou na porta da pré escola do sesi, ao lado da artex artefatos têxteis limitada, na rua amazonas, ela me deixou na porta da pré-escola do sesi e eu disse porra, mãe, por que aquele moleque chora tanto? eu perguntei isso com os meus olhos e ela disse entra, filho, tu vai pra escola e eu confio em ti, e por anos e anos e anos eu vi aquele moleque chorão andando do meu lado, no mesmo ônibus, outro dia ele sentou na mesa da repartição pública onde eu trabalho, o moleque sempre será o chorão do meu primeiro dia de aula em hum mil novescentos e oitenta e nove, março.

rá, agora que eu vi que falo como renato russo, aquela bicha - tanto que sonhei encontrá-lo vivo, tanto!, quando ele diz que tem uma cama que é do tamanho desse palco, eu não teria coragem, uma vez tive. eu cantava perfeição a plenos pulmões, os exatos e mesmos pulmões que hoje eu não tenho, lá se vão alguns tantos anos, eu pensava que podia usufruir da academia contra a própria academia, dárlan sabe, eu tive um sonho mais bonito e mais eficiente que o de sir - piadinha - de sir martin luther king, mas a academia só existe para. a academia só existe contra si.

ainda renato russo, porque repetir faz a idéia vir à tona, alguém disse: o primeiro verso de há tempos, há tanto tempo que eu cantei, eu pensava que poderia parecer tristeza a minha cocaína, mas o renato dizia o contrário e foram tantos anos até entender que o preconceito e a ojeriza alheia são o pão que o diabo e o padeiro amassaram bem antes do sol nascer, eles começam a trabalhar geralmente às três e meia, daqui a uma hora, o padeiro às três e meia, o diabo também.

cansei da leitura, leio bem pouco o que é desse mundo, mas me dêem livros de presente quando chegar meu aniversário, livros do sebo caem muito bem, algum kafka ou sartre ou camus que eu ainda não tenha lido, sabe: sou egoísta, multiplico defuntos na minha estante, mas se tu quiseres um livro eu te empresto sem prazo de devolução.

hoje eu não sinto saudade. e hoje eu não tenho dinheiro. impossível conectar imediatamente saudade e dinheiro, mas a gente geralmente sente falta não do que não tem, mas quando não tem, quer que eu explique?

hoje eu não sinto saudade, hoje eu não tenho dinheiro, hoje não há fantasmas (o amigo morto no ataúde, o amigo vivo que não telefona, os passos dela na escada, nada!), hoje não há nada: nem fome nem sono nem sede nem vontade de ficar acordado, vê?, nem insônia há. vou pensar nos meus bonitos, nas minhas bonitas, nos sonhos de há dez anos atrás como se se tivessem realizado. vou criar o meu mundo perfeito e nele dormir satisfeito.

obrigado!

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