9 de set. de 2010

Nove de setembro.

envelheçamos naturalmente, como há muito tem sido, sem nenhuma merda de remorso, afinal a fonte através da qual jorrava o leite derramado secou. aprendamos, finalmente, com o que nos acontece e com o que nos deixou de acontecer há séculos: acreditemos nas inverdades inglórias que aprendemos com o passar dos dias e que a continuação dos erros é puro divertimento, tapa na cara dos fatos, tapa na cara da sabedoria adquirida com os anos: aprendi? erro por gosto e ponto final.

afinal, ela me disse, quando eu disse estar ficando velho, quase trinta anos, ela me disse que ainda faltam quatro anos para os meus trinta, o grande marco - se eu chegar lá - mas ela me disse que falta muito e continuou perguntando aonde eu estava há quatro anos e a reticência que se seguiu em mim fechou a sentença a me dispunha cumprir: eu não me lembro, talvez não queira lembrar, ia tudo muito bem há quatro anos, como era tudo uma merda há quatro anos, exatamente como hoje também é; dessa forma, daqui a quatro anos, quem sabe: eu vivo hoje.

eu vivo hoje como programa de abstinência de viciadinho em narcóticos, mas eu vivo. vivi ontem e antes de ontem e tenho estado vivo há uma semana, mas a vontade de deixar de viver ou voltar a morrer em doses de um grama ainda me seduz de maneira tamanha! mas não falemos disso, hoje é meu aniversário. falemos de coisas boas.

meu presente de aniversário: viagem a porto alegre, rever a família, os irmãos que a
natureza jamais poderia me ter dado, mas que me deu o acaso, somos então e somos só e somos sós - mas por escolha! e eles me reviram e sorriram aquele sorriso de esperança ainda, quando eu digo que não há mais por onde e o que resta é dançar um tango argentino ou encarnar o junkie americanóide e morrer aos vinte e sete, mas os sorrisos, ah, os sorrisos me comovem e me demovem de toda autodestruição, porque não poderia deixar de tê-los, de vê-los sorrindo pra mim, por mim.

há quem não telefonará hoje. roni, charles, daniel e quantas pessoas que não fazem mais aniversário e nesse momento eu penso na crença dos que crêem e lamento não tê-la. penso revoltado que não poderei receber um telefonema ou um postal dos que não andam mais por aqui. simplesmente porque não existem mais. e porque céu não há, está claro.

a comoção de um cumprimento de meu pai, um aperto de mão que transformo em abraço e em beijo e em mais um abraço. gabriel que me dará um embrulho e pensará, criança que é, na injustiça de não receber ele um presente. o presente mais bonito: um abraço de criança.

se eu esperava sentado na calçada pelos que viriam, não espero. se há um ano escrevi o texto de aniversário que escrevi, era porque esperava. não espero mais. não espero mais nada. deixarei que os anos venham; eu sobrevivo. deixarei que os anos venham e tragam consigo tudo o que se pode caber nesses anos. até que não passem mais. até que eu não precise, olhos cheios de lágrimas, escrever mais um texto sobre o meu aniversário.

Um comentário:

Rodrigo Oliveira disse...

Lembrou-me o google do seu aniversário. disse 'escreve alguma coisa bonita pro Labes. Algo como um abraço ou qualquer coisa assim'. Mas o google só ajudou até a lembrança. depois disso, travou. e não tenho coisa bonita pra escrever, ou talvez apenas não saiba como. fica então apenas o abraço, ainda que pela internet. lembrei de vc ontem, achei que pudesse te encontrar no Farol. Mas tb saí cedo. Não importa. Importa o abraço. Fica com este.

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...