16 de abr. de 2016

O filho da empregada, por Solano Lenfers

“Quem escreve, escreve para alguém ou alguma coisa, eu escrevo pra sair da merda!”

Essa foi uma das formas com que o Labes respondeu minhas perguntas. E após ler “O Filho da Empregada”, se consegue criar um esboço sobre essa questão. É uma leitura que se divide em definidas partes afetivas e profundamente íntimas, contesta também algumas relações sociais sobre o tema exposto, exemplificando sua inquietude sobre toda essa problemática; é permeado por rimas decorando seus próprios retratos, e determinado sarcasmo e acidez como desabafo ao que foi e ao que deveria/poderia ter sido.

Como sou leitor e amigo do Marcelo, foi impossível para eu ler sem ter lembranças de sua voz como uma narrativa na minha cabeça. É um livro, um poema, que se consome por vezes dentro de si, existindo trechos que levarão dias para que eu ainda os consiga digerir, mas que estão longe de serem indigestos. Trata-se apenas de se aprofundar numa reflexão ainda maior sobre as múltiplas possibilidades descritas e pertinentes ao tema.

“Foi o servilismo bastardo vivido por tantos anos que me fez desassossegar da condição de suburbano que precisa trabalhar duro para algum futuro que talvez não desse jeito de apagar tanto buraco no estômago, tanto disfarce incômodo:...”

Os entrelaçados momentos de afago poético aos gritos de descontentamento são provocativos e pertinentes em toda a leitura. Mergulhado num recorte de lembranças ele trás a tona sua infância que foi, é, e ainda será compartilhada por muita gente.

Eu me emocionei em muitos momentos da leitura, leitura essa que é também um exercício de empatia, de indagações, e ainda mais, de encantamentos. A lindeza retratada de que se pode haver poesia no cotidiano, por mais cinza, frio, molhado e sistematicamente duras vezes repetidas, nos faz olhar para ele com o colorido do teu sorriso farto, Marcelo. Nós fomos os convidados a desfrutar ao banquete de suas lindas páginas. Por ora, são essas as palavras.

Obrigado!

Solano Lenfers

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