6 de fev. de 2017

A pureza simples dos banheiros públicos
nas praças nas rodoviárias nos postos de
gasolina pode ser também interpretada
como falta de higiene ou sorte de quem
precisa ali sentar-se para aliviar as tripas
embora possamos perceber o quanto de
humanidade se esconde sob o chão mija-
do o vaso entupido a porcelana escarrada
tudo isto iluminado por uma luz fria (se
existente ainda) se não pela lâmina que
brilha por entre uma fresta estreita sem-
pre muito mal calculada - a porta não fe-
cha a água não escorre a tampa não levan-
ta a merda não desce e é difícil respirar
uréia e tripas como é difícil trancar a res-
piração por tanto tempo e de repente tu-
do escurece o coração dispara a cabeça
acerta os azulejos avariados e quando te
levantas a camisa suja a calça mijada a
cabeça dolorida pelo odor e pela panca-
da quando te levantas é que percebes
que tudo aquilo poderia ser considerado
um resumo da nossa humanidade do
nosso egoísmo enquanto sujeitos e
enquanto moradores desta cidade
onde não parece que se mija e não
parece que se caga e de tanto que se
mantêm as impurezas dentro é que se
nos vai corroendo a vida nos vai man-
tendo a boca fechada a alma inquieta
a noite desperta o olhar infeliz
o pó no nariz e a cerveja gelada.

A pureza simples dos banheiros públicos
deveria nos dizer muita coisa além do que
está claro ou melhor cagado com o fedor
tão característico e deselegante de seus
recintos mas geralmente não nos diz nada.

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