26 de mai. de 2017

se eu me chamasse, ponhamos djalma,
e usasse uma camiseta com a foto e uma
frase de pe. zezinho. quem sabe da oração
da família e se eu não tivesse tomado o maior
cagaço quando roubei da garagem o carro
do meu irmão para sentir alguma coisa e tudo
que senti foi medo como senti medo no internato
como senti medo de ser internado quando as
noites já não tinham fim.

se eu tive aprendido cedo um ofício verdadeiro
desses que aprendem os filhos de operários e
tivesse me tornado torneiro, marceneiro
carpinteiro ou mecânico ou simplesmente
se eu tivesse me tornado algo que fosse
não perderia tempo catando palavras
não perderia tempo remendando nadas
não teria tempo a perder com um poema.

a vida não se vive nos livros, me digo
a vida não cabe num livro, repito
palavras não servem pra nada e não há
nada melhor do que uma noite inteira de sono
tranquilo. acredito. acredito como quem mente
pra si mesmo há tanto tempo que já não há
escapatória

nem glória alguma nisso de ver-se no
espelho como quem vê que não virão
os filhos, como quem vê quem o tempo
atravessa os dias, como quem aceita que
os fins de tarde de inverno serão sempre
essa espera pela resposta positiva de um
exame que me constate a enfisema

de um exame que me diga que os poemas
são ainda o que de melhor pode-se por
no mundo.

quem sabe um dia a gente descobre que
tudo não passou duma enorme farsa onde
estivemos despidos, completamente despidos
diante duma plateia sádica

: a vida em si.

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