22 de jun. de 2019

jogamos os sonhos no ventilador, meus amigos
a sala não cheira bem até hoje embora litros e litros
de desinfetantes e incensos indianos produzidos
no interior de algum estado pobre desta nação riquíssima
procuramos emprego como quem pede desculpas
não temos o ar professoral dos vencedores os ganhadores
sabem como ninguém erguer a cabeça no momento de subir
ao pódio - ao pó voltaremos ao pó voltaremos ao nada
quem tivesse nos visto dez anos atrás vinte anos trinta anos
diria que estaríamos aqui caminhando para onde em círculos
cada vez mais perdidos despreparados desesperados
por uma resposta?

pagamos o preço mais alto, meus amigos
as noites em claro as manhãs compridas tardes
e tardes enxergando o óbvio: perdemos perdidos
que somos - se tivéssemos ficado em casa não cairíamos
nas garras dos pedófilos astutos que rondavam as tardes
suburbanas não teríamos perdido a inocência e os sonhos
não cheirariam tão mal - mas precisamos nos esconder
entre as cobertas entre as lixeiras entre os defuntos
- é lá que nos sabemos protegidos.

vertigem pode ser fome porque ando bêbado a seco
bisbilhotando palavras que me digam que meu nome
pode ser escrito com outras palavras, meus amigos
compreendam que perdemos tudo mas mantemos
nas mãos a chave do cadeado como um tesouro -
o engano é o preço mais caro a se pagar pela crença
- onde estivemos todos esses anos que não percebemos
que caíamos?

a verdade é cara e não temos nem para o começo
pretendo falar a verdade toda vez que me sentir ouvido
quando me quiser olvido tranco a porta engulo a chave
escrevo um poema faço um café e me sento sozinho,
meus amigos

porque vejam: solidão é um triunfo dolorido e se baseia
sobretudo no fato de que a campainha não vai tocar
não vai.

[08/08/2018]

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