de luiza do cheiro de nossa casa
saudade de falar sem voz olhar
e ver sem voz sem voz os olhares
se bastam
mas ainda não: há o avião
possibilidades de queda
desconforto com meu cheiro de cigarro
nas narinas das aeromoças e senhoras
finas que sentarão ao meu lado
eu
que não tenho força nos braços para
puxar a carroça que meu pai
que não tenho força nas pernas para
me carregar nos braços como minha mãe
eu que ainda sinto vergonha por ser o menino
pobre nas festas de aniversário dos filhos do patrão
assim
fica resolvido que cada encontro na grande cidade
será o verdadeiro encontro na grande cidade será
o verdadeiro encontro de quem sinto saudade
quando não estou por perto
é certo
que a vida faz curvas faz curvas faz curvas
e o círculo, o círculo se emenda
a cobra se engole
a vida se engole
e passa mal
falei
pra joão que tenho sentido fome
que as contas as contas as contas
mas não volto atrás porque
a) o vento
b) a brisa
c) a bruma
e estes motivos e estes encontros
e o tempo para abraçar a culpa
para repisar os erros para engolir
a seco as memórias e os enganos
vou
para abraçar amigos vender uns livros
segurar a barra
que a vida é vivida a esmo é vivida mesmo
que seja na marra.
[20/08/2018]
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