22 de jun. de 2019

talvez se nos assistissem frágeis numa das muitas cenas de pânico que protagonizamos durante os dias teriam motivo para apontar nossas fraquezas para pisar nossas feridas e rir abertamente de nossa fragilidade mas eles não vêm aqui, eles não sabem onde aqui fica - eles supõem que nos conheçam, mas de suposições o inferno já vai bem carregado a solidão dos apartamentos: às centenas se todos soubéssemos o caminho as ruas estariam cheias de cadáveres os pássaros já os teríamos matado a todos as redes de proteção já teríamos retirado uma a uma e acompanharíamos a queda dos animais de estimação e das crianças de colo e andador uma chuva amarela anunciou granizo mas o que caiu mesmo foi a pressão arterial - aquele vento ventando as ventas dessa cidade suja e carcomida - chuva invertida de papel e soluções à vista - no fim, foram aquelas gotas necessárias para causar colisões traseiras escorregamentos na calçada brigas entre vizinhos e cada vez mais distância entre as pessoas outro dia falei um poema que me exigia uma risada - nunca morri tanto como naquele fingimento outro dia escrevi um livro outro dia fiz uma oração outro dia eu era um menino sujo de barro até os cabelos - o futuro não assustava como o agora essa demora em vencer os dias essa demora brincamos de revolução como se um raio nos atingisse (no mesmo lugar no mesmo lugar no mesmo lugar) mas somos sozinhos e animados como o boneco de posto que me observava na caminhada diária para comprar cigarros animados e sozinhos e apaixonados mas sobretudo sozinhos e distantes como animais enjaulados animados sozinhos e apaixonados como animais enjaulados animados sozinhos e apaixonados como animais enjaulados.

talvez se nos assistissem frágeis
numa das muitas cenas de pânico
que protagonizamos durante os dias
teriam motivo para apontar nossas
fraquezas para pisar nossas feridas
e rir abertamente de nossa fragilidade

mas eles não vêm aqui, eles não sabem
onde aqui fica - eles supõem que nos
conheçam, mas de suposições o inferno
já vai bem carregado

a solidão dos apartamentos: às centenas
se todos soubéssemos o caminho as ruas
estariam cheias de cadáveres os pássaros
já os teríamos matado a todos as redes de
proteção já teríamos retirado

uma
a
uma

e acompanharíamos a queda dos animais
de estimação e das crianças de colo e andador

uma chuva amarela anunciou granizo
mas o que caiu mesmo foi a pressão arterial
- aquele vento ventando as ventas dessa cidade
suja e carcomida - chuva invertida de papel
e soluções à vista - no fim, foram aquelas gotas
necessárias para causar colisões traseiras
escorregamentos na calçada brigas entre
vizinhos e cada vez mais distância entre as
pessoas

outro dia falei um poema que me exigia uma risada
- nunca morri tanto como naquele fingimento
outro dia escrevi um livro outro dia fiz uma oração
outro dia eu era um menino sujo de barro até os
cabelos - o futuro não assustava como o agora
essa demora em vencer os dias essa demora

brincamos de revolução como se um raio nos atingisse
(no mesmo lugar no mesmo lugar no mesmo lugar)
mas somos sozinhos e animados como o boneco de posto
que me observava na caminhada diária para comprar cigarros

animados e sozinhos e apaixonados
mas sobretudo sozinhos e distantes
como animais enjaulados animados
sozinhos e apaixonados como animais
enjaulados animados sozinhos e
apaixonados como animais enjaulados.

[01/10/2018]

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