26 de mai. de 2020

Poema somente para Rafael Tahan
quando enterrei o pássaro
não marquei o lugar portanto
o considero perdido

[acaso não estaremos todos?
aprendi a sonhar com a voz de
neil tannant e o synth pop dos pet
shop boys - acrescida de voyage,
voyage (aquela canção de quem
ninguém mais lembra)]

eu também me esqueço
do que sonho

; apesar da ritalina da gasolina
da amitriptilina da menina e de
caetano estaremos todos mortos
& vivos & mortos & vivos com os
joelhos embaraçados

: acaso as escadas não te fazem
doer as costas?
: acaso tua mandíbula não te perturba
também os ombros?

plantaremos uma árvore na floresta
do teatro oficina que ainda está por
nascer - e ali voaremos pássaros em
busca dum poema sublime e insensato
como são todos os poemas como são
os livros dispostos na estante e fora dela

(me lavo na louça da pia atrás duma limpeza
impossível me lambo na louça da pia atrás
dum prazer impossível me fodo na louça da pia

me corto
me curo
me salvo)

: acaso viver & morrer não será tarefa
para poucos?

[a feira deixa vestígios, a mão deixa vestígios
- e a chuva cai permanente apesar do sol apesar
do sol apesar de nós, que chovemos]

quando enterrei o pássaro
mirei errado e sinto-o dizendo
aqui-ou-não aqui-ou-não
dentro do peito.

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