22 de jan. de 2021

não é possível escrever um poema
sobre o encontro do amazonas com
o tapajós, porém

em belém fazia calor e não tínhamos
dinheiro, mas jantamos peixe amazônico
enquanto desviávamos das mangas

que nos miravam logo a cabeça;
comemos tucupi e ouvimos dos
perigos da mandioca, quase o

baiacu de joão ubaldo naquele
seu livro escrito também com
fome, vocês sabem, itaparica;

(um taxista me contou histórias
de pássaros e argumentou que
eles cantam diferente em cada

canto do país, coisa de sotaque);
ver o amazonas da janela do avião
me fez sentir tão brasileiro como

quando atravessei sozinho a praia
de itapuã à procura de nuno rau,
à espera de milton rosendo;

mas não tínhamos dinheiro e foi
seu pinga-fogo quem me depositou
uns trocados para comprar cigarro;

santarém é um pedaço de mundo e
não mundo: é terra com água, mais água
que terra, e quando vi de perto o enlace

dos rios quis abraçar meu amigo milton
rosendo e lhe dizer que assim éramos nós:
dois rios que se tocam, duas correntes,

duas cores, duas temperaturas, que acabam
por se tornar um só rio logo adiante
força imensurável de águas, mas isso

é impossível, porém.

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