21 de set. de 2009

Segunda-feira blues.

quanto pesar pode haver e caber em mim, eu não sei onde me perdi ou quando, mas certamente que não há um momento certo, a gente vem se perdendo desde sempre e até que alguém nos olha e diz com pena: tá perdido. eu sei, eu é quem me digo isso e assim e com cara e voz de pena que a gente emenda quando vai encarar nos olhos um mendigo. eu não sei qual o tamanho da esmola que eu preciso, mas sei que fome e frio não me caracterizam: embaixo do cobertor, suado, eu me lembro e tremo de frio.

segunda-feira é o dia de se dar conta. bebi demais, dormi demais, o nariz corroído de novo. tudo bem, eu lamento, não deveria ter dito aquilo daquela forma. segunda-feira é o dia que mais demora a passar, tem o tamanho das promessas que a gente se faz quando diz que vai parar com isso e com aquilo e vai ser melhor, vai viver melhor. segunda-feira é um dia interminável mas só até o momento em que é terça-feira e já nos preparamos para errar tudo exatamente igual àquilo que tínhamos jurado nunca mais fazer daquela forma.

ela tinha pena de mim e por isso me olhava daquela forma. sabia já de antemão dos erros que eu cometeria e por isso tinha pena, sabia que teria de ir pro outro lado em breve, em breve e deve ter demorado muito pra ela; pra mim, passou voando. acontece que só agora eu pude ver a falta que faz quem está longe e a gente queria ter por perto. tantas vezes vou ter de vomitar bile pra poder me fazer crer que consigo viver sem eles, sem ela.

meu pai chorou depois de muitos anos na minha frente. e eu o consolei enquanto me dizia como a cabeça da gente é fraca, e eu dizendo pois é, pai, pois é, a nossa cabeça é fraca mas não disse. quem tinha chorado antes era eu, quinta-feira de manhã o pai veio ter comigo, eu ainda bêbado e sentei e chorei e ele perguntou o que acontecia e eu disse saudade dela, pai, saudade dela e ele não disse nada, não sabia do que se tratava.

outro dia eu explicava da verborragia, de novo o assunto de não precisar mais pensar numa história e num nome de personagem pra transvestir a minha vontade de contar. eu falo de mim mesmo ou eu falo de literatura ou eu sou personagem ou eu quero que somente ela leia os meus textos e me diga que vai voltar. e eu dizia que não me doía escrever assim desse jeito e aqui porque tanto faz, na verdade, que gostem ou não de tanta letra e de tanta palavra. o escritor parece querer que se apartem dele sempre e cada vez mais seus leitores e por isso inventa. acontece de alguém gostar, o que se pode fazer, tem louco pra tudo.

quanto pesar pode haver. então eu queria poder voltar a ler, mas sempre falta tempo, é preciso beber e acordar e trabalhar e voltar correndo pra casa e ligar a tv e dormir. tanta coisa importante - ligar a tv e dormir - que a gente esquece de tudo aquilo que parece dar cor à vida e que cor a vida tem se não o clichê do cinza e do amarelo esmaecido. quantas cores a vida já teve e nunca mais terá, maninha, te acostuma com a tua vida assim, nem branco nem preto somente o cinza.

3 comentários:

Tati P. disse...

pena é um sentimento pequeno demais. quem sente pena é quem não tem coragem de estar perto - e 'estar perto' é algo que pode acontecer mesmo quilômetros além - é quem prefere lamentar e não fazer nada por se dizer incapaz, e na verdade poderia fazer muito.
eu diria que era olhar de atenção, do jeito que tenta-se entrar no olhar do outro pra tentar compreender o mundo visto do olhar do outro. pra chegar fundo, lá dentro, pra se sentir o que se sente lá no fundo, onde às vezes as pessoas até tentam esconder o que se sente.
vale quanto deixar que barreiras sejam barreiras, em vez de tentar derrubá-las. não se pode passar com barreiras tão altas.

Marcelo Labes disse...

revisado somente agora à noite. perdoem-me a pressa.

Elaine Cristina disse...

e bem dizia Leminski: até o erro aprender que só o erro tem vez!

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...