5 de ago. de 2010

Vambora?

deveria haver forma mais fácil de. enfim, sempre as mesmas questões, manter distância do álcool, manter o nariz sério, parar de mentir um pouco sobre as crenças que me arrematam, supostamente seria lindo me ver chorando diante de um altar quando, quem sabe, estivesse a pagar pelo milagre concebido, deus, muito obrigado, amém, ou de qualquer forma, nunca se sabe, eu mesmo santo, crucificado, olhando para os ali acerca e dizendo, pai, pode foder com tudo, tô pouco me fodendo.

sempre as mesmas questões, sempre as mesmas. vê? mudam as cenas, muda o clima, sempre as mesmas questões, outro dia era sábado e fazia calor quando de repente me vi a mim mesmo e revi pedro e revi dover e revi todas aquelas pessoas amáveis ou que deixaram de sê-lo, éramos todos caminhando de bermudas e camisetas há cerca de dez anos. íamos pro bar no primeiro calor do verão, pro mesmo bar para onde caminhamos durante todo o inverno, sempre isso.

há que ser sério, mas sobretudo há que se procurar na seriedade algum feitiço - por que não consigo? eu juro que tento - que me leve direto para lá, para a seriedade, para a idade adulta que nunca me chega, a não ser numa ou noutra ruga que me aparece no rosto e que, aos poucos, faz com que o cabelo nunca-curto acabe destoando do rosto, um cabelo de guri num rosto de homem, meu corpo sem pêlos, essas coisas.

para onde se vai? a vida é essa miséria de querer ter certeza quando certeza é o que de menos a vida pode ter. acontece o seguinte: vive-se um relacionamento de masmorra, escravidão intelectual, afetiva, sexual - propriamente sexual - para encenar o matrimônio. um dia, meu caro, ela desce as escadas - como se isso importasse, outro dia falei: tenho as minhas cenas que são meramente ilustrativas, entenda-se assim - e o merdinha escravizado perde o senhorio e, como se manderlay fosse possível, quer a escravidão ainda mais, ainda mais.

para onde se vai, então? tenta ligar pro von trier, via cento e dois, pedindo um abraço? não, não, nunca mais escravidão.

mesmo que se lamente pelo excesso do lamento desvalido. sim, perde-se muito tempo a lamentar o tempo que se perdeu lamentando, mas é assim que se aprende a viver, afinal. deixa o tempo passar, simplesmente, e um dia te vês com o sorriso que rodrigo chamou de besta celestial, disparando não fogos, mas flores contra quem te cruzar o caminho e invalidas de uma vez por todas a imagem das borboletas na barriga, que a isso dá-se o nome simplesmente de diarréia ou paixão alcoólica por mulheres sempre mais feias do que o álcool consegue esconder atrás de si.

um dia tu acordas no sossego. nunca sem tensão, porque o mundo é esse mundo aqui em que vivemos e aonde a merda da vida nos faz chafurdar em si. mas o sossego desacreditado do abraço existe, o sossego esquecido do olhar amante existe. um dia tu acordas no quarto que tem o cheiro do corpo dela e pensas: não lamento nem mais o tempo que perdi lamentando, porque afinal tudo acontece na hora certa e quem somos nós para duvidar disso.

deveria haver uma forma mais fácil de. marcos me demoveu de muitas idéias infantis ao longo desses vinte e seis anos de amizade, mas ainda não conseguiu me fazer esquecer dos anos de infância que passamos juntos, nos divertindo muito e sempre em busca do que fazer para... passar o tempo. deveria haver uma forma mais fácil de se conseguir tempo e marcos ficaria decepcionado se eu dissesse, ainda hoje, que deveríamos abolir o trabalho e as ocupações regulares para viver... de amor.

brincadeira: sejamos sérios o quanto pudermos. paguemos nossos impostos e durmamos cedo, de preferência sóbrios de álcool e remédios, falemos puramente a verdade (nada superará a verdade, jamais) e nos ocupemos em não nos preocupar com o tempo que se leva para entender o que nos diz a respiração do outro.

deveria ser mais fácil burlar a saudade e a necessidade que desponta aos poucos. aos poucos, para não assustar. deveria e será, se for. vambora?

Um comentário:

Anônimo disse...

Nao sei se foi a saudade, a citação ou o frio, esse ficou de um aconchego arrepiante.Dai muitas discussões virão. valeu mesmo pela clareza nesta escuridão.

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...