19 de nov. de 2016

Era 1989, 1990, 1991... Fomos com a mãe e o pai (será que com o pai também?) para o centro da cidade. Naquela época, o Progresso era ainda mais distante do centro - e assim, dizíamos que íamos para a cidade, porque era lá que havia asfalto, haviam prédios. No Progresso não havia nada disso. Era zona rural antes de ser subúrbio. Entramos nas Lojas Americanas da rua 15 de novembro - uma espécie de shopping mesmo antes de haver shopping na cidade - para comprar algum presente, alguma coisa importante (suponho) e me perdi entre as gôndolas com Vinícius, meu irmão do meio.

Tinha levado comigo uma caixa de carrinhos de metal. Fundo de plástico, embalagem de papelão, tinha seis ou sete carrinhos em miniatura. Havia ganhado de um padrinho, eram a coisa mais importante do mundo naquele momento. Levei comigo porque não podia me separar do presente. Levei porque queria mostrar a todo o mundo que eu havia ganhado um presente tão bonito. Eram seis, sete carrinhos de metal.

Hora de ir embora, a mãe pergunta (ou Vinícius, nunca está claro neste terreno fértil que é a memória): "Cadê teus carrinhos?" E a gente sai a procurar, Vinícius e eu, entre as prateleiras das Lojas Americanas. Andando. Correndo. Nunca os encontramos. Devo ter chorado, naturalmente. O coração na mão, naturalmente. A incerteza diante do impossível: não reaveria o brinquedo e, como nunca me perdoei pela perda, trato de nunca esquecer o esquecimento.

Não lembro suas cores, os modelos que representavam, mas eram seis, sete carrinhos de metal que Roni me havia presenteado. Ou talvez não tivesse sido ele. Talvez não fossem nem mesmo de metal, mas de plástico. Mas tenho quase certeza que eram carrinhos, quase certeza que eram de metal e quase, quase tenho certeza de Vinícius ter me advertido antes de sairmos de casa: "Cuidado pra não perder isso aí".

Era 1989, 1990, 1991... e eu já exercitava perdas com minha surdez diante do conselho alheio. Dali em diante somente seria pior.

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