29 de jun. de 2017

vamos cantar juntos
uma canção de nossa escolha
ou muito melhor: uma canção
que compusemos juntos
com letra tua e música minha
com letra minha e música tua
nossas letras e músicas e nossas
vozes irremediavelmente em
constante desacordo
desacertadamente em
constante desafino.

chego a sentir na fome o cheiro
daqueles dias grisalhos numa
porto alegre insatisfeita com a
minha presença: éramos garotos
que haviam se tornado homens
que insistiam em ser meninos
e nos abraçávamos o abraço
dos heróis de guerra, dos cavaleiros
do rei, dos poetas das tavernas
que nunca lemos porque não 
havia poesia melhor do que a 
que escrevíamos sob nossas
pegadas.

não há nada pior do que esquecimento
e barriga vazia. não há nada pior do que
esquecimento e barriga vazia. não há nada
pior do que um poema sem poesia
com todos os enganos com todos os disfarces
com todas as misérias e nuances:
chego a sentir no rosto a frieza do asfalto
chego a sentir nos ossos a beleza da distância

os números de telefone se encavalam
e se meter com a memória
é a pior forma de fugir.



Um comentário:

Nadine Granad disse...

Adorei!

O ritmo, o jogo poético, as repetições abraçadas ao tema!
Muito bom!

Beijos! =)

já ia avançado o dezembro naquele dois mil e hum já ia também naque le dois mil e vinte os dezembros se mpre têm disso: são somas de térm in...