o bom de ser leve é exatamente o peso que não se leva consigo; pula-se daqui ali e o que pesa mesmo é o que se leva nos ombros e que o pouco peso - aquele antes útil - mal consegue aguentar. se eu te dissesse o que se passa aqui dentro talvez que nunca mais insistisses em tentar um contato ou, quando talvez, tentar me conhecer, mas são assim as pessoas, babe, e elas fedem.
é fácil ser um porra louca, eu te explico: basta ter uma decepção amorosa de verdade e mais uma dezena de decepções inventadas que taí: não tens mais que levar a vida tão a sério, tampouco a morte e muito menos ainda isso que se convencionou chamar amor. redigamos, por favor e explicitemos de uma vez por todas: o amor morreu. poetizar? ei-lo morto. se fodeu!
morre-se um pouco, sim. a cada dia, cada vez mais, os anos passam e morre-se mais, pois é. acontece.
e nunca mais se consegue o silêncio, nunca mais que se concentra depois que se apaixonou pela boemia. quando se era mais jovem... quando se era mais jovem ouvia-se tanta gente mais velha cantando na rádio que o que era a vida era daquele jeito e a gente não entendia, não é? fui entender com tristeza o mundo inteiro acordar e a gente dormir, de cazuza, quando o a gente dormir era segunda-feira e eu acordado às cinco da manhã quando precisava de fato acordar às seis, eu entendi com tristeza tudo isso hoje de manhã.
a gente cresce para se reproduzir, compreende? e isso de subjetividade que nos faz broxas e as faz frígidas e nos faz temerosos e neuróticos, o que a gente faz com isso? enfia no cu, de preferência com pitadas de literatura francesa e latinamericana. do século vinte, por favor: faz mais sentido.
cansei das sinapses perdidas e encontradas, dos textos sob influência, da comunicabilidade alcançada a base de alcalóides, tanto eufemismo pra nada. enfim. nunca se diz de fato o que se quer dizer, ainda mais em se tratando de um texto que se julga - escrito por quem é julgado - na tentativa de ser literário.
cansei de mim e de ti. mas me acostumei com isso, então segue-se a lógica da repartição pública e de todo ofício maquinal de merda que se cumpre religiosamente durante a vida inteira até a aposentadoria - e depois dela; nunca te falei que meu pai acorda todos os dias à meia-noite porque esse era o horário em que se jantava no terceiro turno da empresa? acordava. acordou durante quase quarenta anos; foi ao médico e agora toma remédios que o fazem dormir cedo e não acordar nunca mais. mas se o escuto de pé, no escuro, caminhando pra cozinha, quanto orgulho! somos só isso, pai. apenas costume.
cansei de mim e de ti, mas me cansei acostumado, o que quer dizer que não me canso, de fato, embora seja humano e cristão, mais cristão que humano, ter esperança em alguma coisa, e eu tenho: embora nada demais: nunca se permite ir tão fundo e de verdade mais que uma vez.
andar em círculos, sempre. porque sempre será. e não te incomodes de eu não saber teu nome ou confundi-lo com outro. acontece de a gente sempre querer retornar prum conforto que não aceita que tenha terminado, sempre um conforto, até o ventre, num eterno retorno. dá pra imaginar isso numa explicação em três d a la discovery channel, não dá?!
entonces me perdoa se eu confundir teu nome ou te chamar dum nome que nunca havia saído antes da minha boca. de repente a gente pode crer que, se pensar bem forte, vai haver novamente conforto. e de repente a gente pode perceber que o conforto pra onde se quer voltar nunca houve, a gente é que imaginou. e tudo não passou de história pra boi dormir.