o poema
pra existir
necessita
desse
silêncio.
o poema
necessita
do hiato
que se forma
quando pára
finalmente
de chover.
o poema
para haver
necessita
desse porão
acinzentado
que a gente
leva consigo
por onde quer
que se ande.
o poema
necessita de mim
e de ti
nunca
n
e
cessa
r
ia
mente
nessa
mesma
ordem.
14 de dez. de 2015
3 de dez. de 2015
o mundo,
não se
podia dizer que
era grande.
tudo acontecia
no bairro:
o vô e a vó,
os tios e as tias,
os primos, as primas
e as tristezas,
tudo acontecia
tão perto.
só era grande
quando a gente
se aventurava
a tomar banho
de rio e tu
me levavas.
"não conta nada
pra mãe".
nunca contava,
mas igual a mãe brigava
- a roupa molhada,
vinícius. a roupa
molhada no varal
era o que nos
delatava.
mas tudo mudou tanto!
mudou e deixamos
os dois de ser
meninos.
mudou e deixamos
de nos aventurar
pelos estradas
de terra com
aquela bicicleta
vermelha e amarela
que não se sabe mais
onde está.
o mundo ficou
tão grande que a
gente nem se
encontra mais.
a roupa no varal,
vinícius.
esquecemos de novo
a roupa no varal.
não se
podia dizer que
era grande.
tudo acontecia
no bairro:
o vô e a vó,
os tios e as tias,
os primos, as primas
e as tristezas,
tudo acontecia
tão perto.
só era grande
quando a gente
se aventurava
a tomar banho
de rio e tu
me levavas.
"não conta nada
pra mãe".
nunca contava,
mas igual a mãe brigava
- a roupa molhada,
vinícius. a roupa
molhada no varal
era o que nos
delatava.
mas tudo mudou tanto!
mudou e deixamos
os dois de ser
meninos.
mudou e deixamos
de nos aventurar
pelos estradas
de terra com
aquela bicicleta
vermelha e amarela
que não se sabe mais
onde está.
o mundo ficou
tão grande que a
gente nem se
encontra mais.
a roupa no varal,
vinícius.
esquecemos de novo
a roupa no varal.
paus.e.pedras
- ela apanhou porque
mereceu.
- enrabei o magrelinho
que além de veado
era ateu.
- coisa melhor do
que ter seu próprio
macaquinho
de estimação?
[eles falavam tanto
de classe,
fazer levantar as massas,
fazer a revolução
- o branco, mais uma vez;
o homem que a si
se vê como seu o pau
lhe garantisse redenção]
paus e pedras,
paus e pedras.
na primavera das datas,
mais do que arco-e-flecha
havia ali um silêncio
trancado.
(não se interrompe
silêncio, não se
amarra, não se
dissipa)
na primavera das datas,
se estava ensaiando,
em silêncio, o grito
que ouvirás daqui uns dias.
ele te dirá que te dispas
de todas tuas verdades,
de todas tuas mentiras.
ele te dirá que é tarde
para ti e tua latrina
(a boca pela qual falas
em nome dos pretos,
dos indígenas,
dos meninos e
das meninas).
se já não sabes mais
em qual direção,
o precipício.
ou será pra sempre
isso:
paus e pedras,
paus e pedras.
mereceu.
- enrabei o magrelinho
que além de veado
era ateu.
- coisa melhor do
que ter seu próprio
macaquinho
de estimação?
[eles falavam tanto
de classe,
fazer levantar as massas,
fazer a revolução
- o branco, mais uma vez;
o homem que a si
se vê como seu o pau
lhe garantisse redenção]
paus e pedras,
paus e pedras.
na primavera das datas,
mais do que arco-e-flecha
havia ali um silêncio
trancado.
(não se interrompe
silêncio, não se
amarra, não se
dissipa)
na primavera das datas,
se estava ensaiando,
em silêncio, o grito
que ouvirás daqui uns dias.
ele te dirá que te dispas
de todas tuas verdades,
de todas tuas mentiras.
ele te dirá que é tarde
para ti e tua latrina
(a boca pela qual falas
em nome dos pretos,
dos indígenas,
dos meninos e
das meninas).
se já não sabes mais
em qual direção,
o precipício.
ou será pra sempre
isso:
paus e pedras,
paus e pedras.
segunda.a.segunda
Se os iguais são
indiferentes
e os diferentes
estão desiguais,
é preciso urgente
encontrar caminhos,
indiferentes
e os diferentes
estão desiguais,
é preciso urgente
encontrar caminhos,
mas quais?
Será que por aqui
mesmo?
[entre acerto e desconcerto,
injustiças e polícias,
políticas e mentiras]
Para a frente
sempre,
nunca pra trás!
Será que por aqui
mesmo?
[entre acerto e desconcerto,
injustiças e polícias,
políticas e mentiras]
Para a frente
sempre,
nunca pra trás!
proposta.poética
Por uma poética que
leve em conta
mais acertos que
desenganos,
queiramos:
muito mais sul
do que norte,
muito mais luta
que sorte,
cores que vão
além da trinária
bandeira de
Estados Unidos.
Porque a vida
um dia acaba
e estamos mortos;
vivos, valemos
mais - juntos,
assim mesmo distintos,
assim mesmo tortos
- e latinos.
Porque a vida
se vive até que
se acabe -
mas a nossa
latinidade estará
sempre viva
como sobrevivem
feito ferida
os torturados,
os mutilados,
os esquecidos
e os desaparecidos.
leve em conta
mais acertos que
desenganos,
queiramos:
muito mais sul
do que norte,
muito mais luta
que sorte,
cores que vão
além da trinária
bandeira de
Estados Unidos.
Porque a vida
um dia acaba
e estamos mortos;
vivos, valemos
mais - juntos,
assim mesmo distintos,
assim mesmo tortos
- e latinos.
Porque a vida
se vive até que
se acabe -
mas a nossa
latinidade estará
sempre viva
como sobrevivem
feito ferida
os torturados,
os mutilados,
os esquecidos
e os desaparecidos.
pura.retórica
Façamos um trato
definitivo:
paremos de nos
matar
(mesmo que
tenhamos motivo).
Contrato assinado,
só um aviso:
não olhe pro lado!
[As crianças não
compreendem o
idioma estrangeiro,
tampouco tem tempo
de descer a escada]
Estampido ligeiro.
Fecha-se a cortina
de fumaça.
definitivo:
paremos de nos
matar
(mesmo que
tenhamos motivo).
Contrato assinado,
só um aviso:
não olhe pro lado!
[As crianças não
compreendem o
idioma estrangeiro,
tampouco tem tempo
de descer a escada]
Estampido ligeiro.
Fecha-se a cortina
de fumaça.
esboço.para.uma.ciranda
eles queriam amar,
apenas.
ela queria ser feliz,
feliz, feliz.
ele queria viajar
ou mesmo ficar
parado:
[decidiria no
exato momento
incerto em que as
decisões são
tomadas ].
ela queria voar,
ele queria saber,
ela queria sonhar,
ele sonhava ainda
com deixar de fumar.
ele vivia a esmo,
ela pedia a deus
que os dias fossem
leves.
ele queria ver a neve.
ela queria um mundo
finalmente justo.
ele ansiava pelas cores,
ela reverberava dores,
eles todos se viam
a si mesmos como
a promessa de um
algo novo.
eles queriam apenas
amar,
mas o fogo
já lhes queimava
as canelas.
apenas.
ela queria ser feliz,
feliz, feliz.
ele queria viajar
ou mesmo ficar
parado:
[decidiria no
exato momento
incerto em que as
decisões são
tomadas ].
ela queria voar,
ele queria saber,
ela queria sonhar,
ele sonhava ainda
com deixar de fumar.
ele vivia a esmo,
ela pedia a deus
que os dias fossem
leves.
ele queria ver a neve.
ela queria um mundo
finalmente justo.
ele ansiava pelas cores,
ela reverberava dores,
eles todos se viam
a si mesmos como
a promessa de um
algo novo.
eles queriam apenas
amar,
mas o fogo
já lhes queimava
as canelas.
É preciso deixar
que a noite chegue
para sentir a tua falta,
para olhar a estrela
mais alta e pensar que
estamos sozinhos aqui:
o telefone não toca,
ninguém baterá na porta
e as cartas, desesperadas,
se perderam por aí.
O scuro de que foge este
Mastroianni maduro, sou eu mesmo
quando me vi no Paradiso deserto.
De perto, toda distância é segura.
É preciso deixar que a noite chegue
para nos esquecermos de dormir.
que a noite chegue
para sentir a tua falta,
para olhar a estrela
mais alta e pensar que
estamos sozinhos aqui:
o telefone não toca,
ninguém baterá na porta
e as cartas, desesperadas,
se perderam por aí.
O scuro de que foge este
Mastroianni maduro, sou eu mesmo
quando me vi no Paradiso deserto.
De perto, toda distância é segura.
É preciso deixar que a noite chegue
para nos esquecermos de dormir.
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